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segunda-feira, 9 de julho de 2012

As relações do PT com o PSB nas eleições municipais de 2012, com foco em Recife



  O governador Eduardo Campos faz um discurso falso para justificar a candidatura do PSB Recife. Diz que teve paciência e esperou até onde pode o PT se resolver.
  Não é bem assim. Todo mundo sabe que Eduardo Campos teve participação direta nas disputas e crise interna do PT. As prévias do PT foram incentivadas pelo governador através do apoio e incentivo de um dos pré-candidatos, que por acaso era seu secretário de Governo. Ajudou a acirrar a divisão interna, fingindo-se de imparcial. Ou seja, usou uma velha arma da política: dividir o adversário para governar. Infelizmente, apesar dos reiterados avisos, uma parcela do PT reforçou este jogo que foi usado pelo Palácio do Campos das Princesas, fazendo a campanha interna das prévias contra o prefeito do PT.


  Lembrar que em 2006, apesar de haver uma candidatura petista para governador, Lula não virou as costas para Eduardo com a consciência que a principal tarefa era derrotar Jarbas Vasconcelos. Que em 2010 Lula ajudou a derrotar os candidatos ao senado de Jarbas Vasconcelos para Eduardo ter dois senadores eleitos ao seu lado.
   Estamos ainda num momento em que os partidos políticos da esquerda democrática precisam derrotar os partidos conservadores (que não querem mudanças no sistema político). E além, e mais importante, do que ganhar eleições, os partidos da esquerda democrática precisam, em unidade política, construir uma hegemonia política na sociedade, avançando a organização autônoma da sociedade e a consciência política do povo.      Ganhamos eleições municipais, estaduais e nacional, mas a maioria da sociedade tem uma consciência política conservadora. Consciência conservadora alimentada pelos partidos anti governos Lula e Dilma, por governos como de São Paulo, pelas igrejas, pelo judiciário, etc. Na última eleição presidencial vimos como o Serra utilizou esta consciência conservadora para levar a eleição ao segundo turno.

   Vivemos um momento político onde a alternância no governo entre os partidos da esquerda democrática não podem se dar com alianças com a direita que combate nosso projeto para derrotar partidos do campo democrático. Podemos disputar eleições entre nós, mas sem utilizar da direita anti-Lula e Dilma como Jarbas Vasconcelos. 

   Vamos citar um exemplo de como devemos proceder: no Piauí o PT governou por dois mandatos, no terceiro foi feito um acordo para o PSB encabeçar a chapa e o PT ficar na vice, sem golpes. 

Isto poderia acontecer no Recife? Poderia. Mas o governador optou por outro caminho. Acirrar a divisão dentro do PT alimentando e apoiando a candidatura de Maurício Rands. Fingiu neutralidade, dizia que apoiaria qualquer candidato que o PT decidisse, mas fez exatamente o contrário. Atuou para enfraquecer o aliado de esquerda e aliou-se com o principal inimigo (Jarbas Vasconcelos) para derrotar quem dizia ser seu aliado. 

   E mais, diz que sempre ajudou e ajuda a Presidente Dilma. Pergunto: participar do governo federal e apoiar governos estaduais de forte oposição ao nosso governo federal (SP, MG, SC e outros) é ajudar Dilma?

   O PSB não pensa estratégicamente em construir uma hegemônia social de esquerda democrática para avançar nas reformas políticas. O PSB pensa em conquistar governos e mantê-los usando e fortalecendo as instituições políticas sem reformá-las.
   Em Pernambuco Eduardo Campos trabalha isso com uma obsessão carlista. Parece estranho esta afirmação?         Então vejamos.
   Eduardo Campos trabalha com popularidade e não com organização política da sociedade. Domina a Assembléia Legislativa com os velhos instrumentos de cooptação. Interfere ou tem parcela significativa de controle no TCE, no TRE, no TJPE e agora até no TCU com a eleição de sua mãe (aliás com o equivocado apoio do PT). Exerce, com o poder de governo, uma influência forte na imprensa. 
   Isto não lembra o método que ACM usou durante muito tempo na Bahia?
   Por tudo isso que eu digo que não estou simplesmente questionando a postura do PSB em Recife. Sei que nós petistas temos responsabilidades nesta situação local, até porque de uma forma ou de outra uma parte de companheiros nossos acabaram fortalecendo o jogo de Eduardo Campos ao apoiarem o pré-candidato petista nas prévias que atuou fortemente na desconstrução do governo petista no Recife. Lembram daquela afirmação de Maurício Rands: "vou levar o modelo de gestão de Eduardo para a prefeitura"?
   Não quero agora fazer balanço dos nossos erros (faremos depois das eleições), mas hoje está confirmado que Maurício Rands era o plano A de Eduardo para controlar o PT. Como não funcionou, teve que recuar de sua afirmação de que apoiaria qualquer candidato que o PT definisse e romper a aliança. 
   Dentro desta estratégia de combater uma candidatura petista, é bom lembrar, o movimento de Fernando Bezerra Coelho transferir seu título para Recife no início do ano. Alí já estava sendo gestado o plano de derrotar o PT. 
   Estou querendo empurrar o PSB para a oposição? Não, até porque como demonstra sua atuação em vários estados importantes ele já está com os pés lá. Precisamos fazer este debate com a sociedade e a base do PSB exatamente para empurrá-lo de volta ao campo democrático e popular.

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Fonte: Blog do Jorge Perez